terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Areias do Tempo

Explorando a idéia da existência como algo transitório em seu último trabalho, Lee Mingwei (artista Chinês) juntou 10 toneladas de areia em Londres na Galeria Albion no lado sul do rio Tâmisa, e recriou Guernica, a obra de Picasso. Essa criação massiva inspirada nos momentos tranqüilos nos Andes permanecerá intacta somente por uma semana. No último dia, os visitantes caminharão sobre a obra que então será varrida cerimoniosamente.
Dito pelo artista “A idéia central de minha obra é sobre a instabilidade. As coisas mudam e seguem adiante; eu quero que as pessoas vejam que há esperança depois da destruição”.
Parafraseando o autor, não só venho acompanhado como sentido os efeitos deste momento que vem passando o sector de calçados, na nossa região. Vejo movimentos de todas as ordens, sejam reuniões sectorias, políticas e até contratação de consultorias, que considero todas válidas. Mais observo e acho, que não entendemos o que esta acontecendo, Voltando no tempo encontramos um sector, se não todo, mais na sua maioria montado e baseado em um processo de prestação de mão de obra e tecnológica para exportação de calçados para o USA. Sendo que todo o processo de criação e comercialização era imposto pelo cliente contratante, e nos restando por competência à confecção dos produtos.
Ai que na minha modesta opinião esta o nosso “problema”, que um dia foi solução, hoje é o problema. Conhecendo nossas indústrias, sabemos que existem empresas que estão aumentando suas vendas e estão muito bem. Estas empresas mudaram seu perfil e investiram em mercados e centros de desenvolvimentos, usando novas metodologias para criação de novos produtos, que associam um conhecimento profundo ao mercado em que, se quer atender “perfil de consumidor e suas características” junto com um trabalho em Feiras Internacionais com marca própria ou join ventures.
Por tanto o que me preocupa é o que leio e tenho ouvido. Nada adianta se tivermos um dólar compensador se não tivermos mercado, pois para quem ainda não sabe mais ou menos 75% do mercado de calçados para USA esta sendo produzido pelos Chineses com migração para paises como Índia e outros. Onde muitos desses pares eram produzidos por nós e não voltam mais, e se novamente olharmos para o passado e lembrarmos como ficaram as indústrias de calçados na Espanha e Itália, quando estas produções foram transferidas para o sector Brasileiro e outros. E quais foram às saídas que eles acharam como solução?
Investimento em Gestão do Design e Mercados, com profundas mudanças na metodologia de desenvolvimento e uma aproximação maior das Instituições que geram conhecimento como a Feevale onde tem o primeiro Centro Design de Calçados da América Latina e que é ignorado pela maioria das empresas. Talvez venhamos saber que após todo o trabalho, os mercados que nos restam, estejam havidos as mudanças de uma sociedade contemporânea e que tem informação e comportamentos distintos e mais as suas questões culturais e ambientais, portanto com necessidade de ser estuda para podermos estar em sintonia com as suas demandas seja da ordem estética, forma e função.
Quero dizer também que já passou o tempo de estarmos pagando verdadeiras fortunas por projetos que apenas contemplam apresentação de pesquisas de ”tendências”. E que na verdade o que nos falta e transformar estas informações em novos produtos, abrindo espaço dentro das empresas para criação e inovação, e isto passa pela valorização dos profissionais com formação e talento para este novo momento. Unindo P&D “pesquisa e desenvolvimento com inovação voltada para os nichos previamente definidos” talvez tenhamos alguma oportunidade.
E para nós, resta, entender que vivemos em um mundo onde os mercados estão em evolução permanente e não podemos ficar aqui no Vale, esperando as coisas acontecerem ou que o mercado venha até nós.
Para finalizar pegando o gancho sobre o trabalho de Lee Mingwei, onde o conceito tem diversas palavras que podemos trabalhar e analisar “transitório, instabilidade, destruição e esperança”.

20/10/2007
Jorge Silva
Designer/Consultor

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